Liberdade

LIBERDADE
De sentir,
De abraçar,
De ser,
De pensar,
De actuar,
De ser,
Nas penumbras que havia,
Na madrugada que alvorou,
Na alegria testemunhada,
Na vergonha que se guardou.
Na liberdade amargurada,
No conflito terminado,
Na nova alvorada,
O destino estava confinado.
Foi com a força armada,
Que nas pedras da calçada,
Todo o país acordou,
E o terror enfim passou.
Foi um dia de alegria,
Que os cravos assinalaram,
E o futuro então aí havia,
Que os músicos declamaram.
Foram anos sombrios,
De tortura e abuso,
Os dias eram tardios,
Onde dominava o obtuso.
Liberdades escondidas,
Conversas codificadas,
Vistas urdidas,
Coragens admiradas.
Lutas de pé,
Lutas sentadas,
Lutas vividas,
Lutas perdidas.
E a democracia estalou,
E o povo cantou,
E a esperança voltou,
E tudo mudou!
Viva o 25 de Abril!

Gigaton

Os Pearl Jam regressaram aos discos, e eu diria que regressaram bem. Não regressaram muito bem, mas regressaram bem.

A minha relação com os Pearl Jam tem sido atípica, no sentido em que nao deixando de ser das minhas bandas favoritas (só muito poucas mais andam nesse campo), nos últimos tempos, os recentes álbuns têm-me deixado um pouco constrangido.

Depois de uma época com Ten, Vs., um Vitalogy sombrio (devido a Cobain), um No Code (que os fez vir a Portugal em 1996) melhor, um Yield ainda a puxar para trás e depois um Binaural e os restantes que vieram e que iam modificando o som ao sabor das gerações mais novas, onde o que imperava eram os singles de ocasião para as rádios e para chamar aos concertos.

Eles próprios sabem disso, e por isso é que os concertos são preenchidos na sua grande maioria, pelos êxitos dos anos 90 e não pelos deste século.

A expectativa por este “Gigaton” era por isso baixa, olhando ao que tinha sido feito antes. E por isso, foi uma enorme surpresa reparar que o novo álbum dos Pearl Jam está como que a retomar velhos tempos, onde quanto mais se ouve, melhor se entende. E melhor se vê que os velhinhos estão em forma.

Foi um álbum planeado, que tem músicas rock, como tem músicas pop, como tem músicas mais calmas, que denotam essa experiência acumulada em anos e anos de estrada, que fazem com que seja bom (na minha opinião) voltar a ouvir os rapazes de Seattle.

Voltar ao passado no futuro

Os blogs foram parte da minha vida durante muito tempo.

Quis o destino que nestes tempos de 2020, onde os telemóveis ditam as leis e o mobile é rei, que em isolamentos forçados, tenhamos de ver novas alternativas de passar a mensagem, seja ela qual for.

Regressar ao passado neste futuro novo e diferente tem muito que se lhe diga.

Veremos o que aí vem…

Da série “diz-me com quem andas”

Saiu hoje a notícia de que Sérgio Monteiro, o ex-Secretário de Estado dos Transportes e que andou a vender ao desbarato as poucas empresas públicas que havia, para se poder olhar para o défice com outros olhos, vai receber 30 mil euros / mês para poder dar andamento à venda do Novo Banco.

Carlos Costa justificou a decisão pela “complexidade” e pelos “desafios associados ao processo de venda do Novo Banco”. E lembrou que houve necessidade “de encontrar um responsável de reconhecido mérito e elevada experiência em operações desta natureza que pudesse assegurar a coordenação e gestão de toda a operação, incluindo o acompanhamento do programa de transformação a implementar pelo Novo Banco, que é condição essencial” de êxito.

Estamos a falar de 30 mil euros por mês, pagos pelo Fundo de Resolução dos Bancos. 30 mil euros por mês. Se não é pornográfico e de uma enorme falta de vergonha, não sei o que mais poderá ser…

Um discurso pequenino de um homem pequenino

Aqui.

Mas as principais notas estão aqui e definem aquele que é responsável por 30 anos da nossa democracia:

“Ao Primeiro-Ministro cessante, que chefiou o Governo de Portugal durante mais de quatro anos, bem como aos membros dos seus governos, expresso público reconhecimento pelos serviços prestados ao País em circunstâncias muito difíceis, e desejo os maiores sucessos pessoais e profissionais.”

“Em resultado da demissão do Governo, e tendo presente que se vive um tempo em que o Presidente da República não dispõe da faculdade de dissolver o Parlamento e convocar novas eleições, decidi auscultar a opinião dos parceiros sociais e de instituições e personalidades da nossa vida pública conhecedoras da realidade económica, social e financeira do País.”

“Perante os desafios que tem pela frente, podem contar, este Governo e o seu Primeiro-Ministro, com a lealdade institucional do Presidente da República para a salvaguarda dos superiores interesses nacionais.”

“Não abdicando de nenhum dos poderes que a Constituição atribui ao Presidente da República – e recordo que desses poderes só o de dissolução parlamentar se encontra cerceado – e com a legitimidade própria que advém de ter sido eleito por sufrágio universal e direto dos Portugueses, tudo farei para que o País não se afaste da atual trajetória de crescimento económico e criação de emprego e preserve a credibilidade externa.”

Um dia bom

Depois de ver Cavaco Silva a ter de se vergar perante a democracia tão difícil de aceitar, e de indicar António Costa a constituir governo, lembro-me daquelas pessoas que nestes últimos quatro anos perderam muita coisa, mas acima de tudo, a dignidade.

Pessoas que foram castigadas no seu rendimento para o bem do país. Pessoas que foram castigadas nas suas poupanças para salvar o país. Pessoas que perderam os seus empregos, as suas condições, o acesso à saúde por razões económicas e não sociais, as escolas que fecharam, a cultura que foi sendo sonegada e apenas disponível para elites.

A dignidade de um país, que se esforçou indevidamente, para agora se ver que não serviu de nada.

Não houve reforma do estado, não se baixou a dívida do país, o desenvolvimento não prosperou, a economia não recuperou e continuamos estupidamente assimétricos num país com 90000 km2. (parece que é muito, mas não é nada)

António Costa vai ter uma tarefa que não é nada fácil e vai estar a ser escrutinado da direita à esquerda. Se cumprir os acordos que fechou, creio que teremos um país, que mesmo não seja mais justo ou equitativo, que recupere ao menos um pouco da muita dignidade que perdeu.

Que celebre, e bem, o 5 de Outubro e o 1º de Dezembro. Que mostre a sua vitalidade e que tenha vontade de crescer. Mas acima de tudo, que seja digno. E aqueles que voltam (muitos deles) ao poder novamente, que façam tudo para que esse valor tão importante não seja deixado ao acaso.

Foi um dia bom, porque assistimos ao fim (ou pelo menos ao seu início) do cavaquismo, esse mal que perdurou em Portugal nos últimos 30 anos, intercalados por 10 sem actividade política relevante do seu principal personagem.

30 anos onde tínhamos tudo para crescer ainda mais, mas que hipotecámos esse futuro para ser subservientes de quem nos dava o dinheiro. 30 anos onde a tradição imperou, arrastando consigo muitos dos piores vícios da ditadura salazarista, como o comportamento, a hierarquia e o clientelismo. 30 anos, onde a minha geração se sentiu enganada e destroçada por aqueles que lhes alimentavam os sonhos de uma vida melhor num dos melhores países do mundo para se viver. 30 anos que vão demorar outros 30 a tentar recuperar de um dos piores políticos que Portugal teve.

Foi um dia bom por isso. Por, pelo menos, tentar voltar a ter a dignidade que merecemos.

Lista de Pedidos

Cavaco Silva, aproveitando a altura em que as crianças escrevem ao Pai Natal por causa das prendas que querem receber nas Festas, recebeu hoje António Costa com carácter de urgência, para lhe dizer que tinha uma lista de pedidos a fazer ao Secretário-Geral do PS, para que este pudesse formar governo:

  • Aprovação de Moções de Confiança
  • Aprovação de Orçamentos de Estado, em particular o de 2016
  • Cumprimento das regras de disciplina orçamental
  • Respeito pelos compromissos internacionais de Portugal
  • Papel do Conselho Permanente de Concertação Social
  • Estabilidade do sistema financeiro

 

Soube-se no entanto, de fonte segura, que houve mais pedidos que Cavaco Silva fez a António Costa e que agora se reproduzem:

  • Pediu para não ligar à entrevista de Passos Coelho na sexta-feira, porque o pequeno estava a fazer birra
  • Pediu o número do Luís Filipe Vieira, para que lhe pudesse dar uma palavrinha sobre o Rui Vitória e o que as suas tácticas estão a fazer ao ego dos benfiquistas e o que isso implica na economia nacional
  • Perguntou se já pode passar pelo Intendente nos sábados à tarde
  • Perguntou se o carro eléctrico com que Costa andava na Câmara de Lisboa se gastava pouco, porque quando sair da Presidência, necessitava de uma viatura para se deslocar em Lisboa e que não gastasse muito
  • Pediu uma receita de um guisado de caril, que aprendeu a gostar na altura em que estava em Inglaterra a estudar, e que tinha sido um amigo paquistanês que lhe tinha ensinado na altura

Por isso, é muito pouco provável que ainda desta vez, haja fumo branco para que um Governo tome posse em Portugal. Eu sei que não somos a Bélgica, que esteve um ano e meio sem governo e conseguiu se governar sem grandes problemas, mas também não é preciso abusar.

 

É que se seguirmos o mesmo destino, depois começamos a ter tiros no Intendente aos sábados à tarde… Oh, wait…